De repente mulher
O despertador está tocando desesperadamente. Bato com toda minha força nele e ele desliga. Desço da cama e vou direto ao banheiro jogar uma água no rosto.
Chego ao espelho e com um embaraço me confundo com minha irmã… Me confundo??? Esfrego meus olhos para ver se o que vejo é real e logo confirmo com a chegada de minha irmã, ou melhor, meu irmão. Trocamos de corpo!! Ela/Ele olha para mim e sai batendo à porta de meu quarto, provavelmente para ir pra cozinha.
Dou passos largos e chego na cozinha, minha irmã já está sentada, juntamente com meu pai, provavelmente ela já foi pro trabalho. Me sento e ficamos nos 3 nos olhando até que meu pai grita.
-Menina burra, vá já pegar prato e talher para nos e trate de pegar a comida da geladeira.
-Pai esse trabalho não é…
Me interrompo no meio ao me recordar de que tornei-me minha irmã.
Me apresso e pego tudo, levando para a mesa.
Terminamos a refeição e minha irmã diz:
-Não vai recolher nossos pratos?
O que ela está fazendo? Como pode fazer isso comigo?!
-Sim, já levarei.
Retiro os pratos e vou para meu quarto, colocando um moletom largo e um casaco … Pretendo encontrar minha mãe logo e explicar pra ela o que aconteceu, talvez acredite em mim já o meu pai… NUNCA.
Abro a porta e ando em direção a floricultura onde minha mãe trabalha, no caminho, dois homens começam a me encarar e cochichar entre eles.
-Gostosa você hein?!
-Vem aqui com a gente.
Me distancio rápido, o medo me consumia e não parava de pensar em minhas roupas… Não tinha nada de vulgar nelas, são apenas moletons largos e mesmo assim mexeram comigo.
Chego na floricultura e minha mãe logo me recebe.
-Meu deus, se continuar andando assim não arranjará homem pra casar com você.
-O que?
-Isso mesmo filha, olhe para suas roupas… Não tem vergonha??? Precisa ser sensual!
Fico chocado com seu comentário, sinto até uma pontada de pena de minha irmã.
Olho para a entrada da loja e vejo João entrando, um colega de classe meu que pelo o que me lembro minha irmã o ideia.
-Eai linda?!
-O que você disse?
Ele vem e me agarra pela cintura e beija meu pescoço. Piso em seu pé e vou para os fundos da loja. Minha mãe me segue.
-Você está doida menina?!
Como ela não gostava dele, provavelmente não o trataria bem… Pensava estar fazendo o papel certo, não?!
-Como assim mãe?! Eu o odeio.
-Já conversamos sobre isso, a família dele tem muito dinheiro e vice NUNCA achará coisa melhor… Algumas vezes precisamos ficar caladas, entende?!
Sinto nojo, desgosto dela, que coisa desumana. Como ela faz isso com a própria filha?!
Saio de lá aos prantos e quando chego ainda tenho que escutar reclamação: “Sua inútil, não lavou a louça porque?”, “Onde está meu café da tarde?”.
Fui na cozinha, lavei tudo e preparei café pra levar pra minha irmã. Entrei no quarto e…
-Saia e bata na porta.
-Não farei isso.
-Fará sim. Agora os papéis se inverteram, eu mando e você faz.
Bati a porta com tudo e entrei de novo, colocando o café na bancada.
-Porque está fazendo isso?? Eu não entendo nem como isso foi acontecer.
-Nem eu…
-Devolva meu corpo!
-Não… por enquanto não. É bom estar em seu lugar, digamos que um tanto relaxante!
Ela bebe o café enquanto esfrega na minha cara a desigualdade que se manifesta dentro de casa.
Quando chega à noite a comida inteira feita por mim, que por um milagre ficou muito boa contando que nunca havia tocado numa panela antes disso, estava na mesa. Chamei os dois e eles desceram mas não para o que eu pensava.
-Vamos ao bar.
-Vou junto! – digo apressada.
Os dois começam a rir.
-Mulherzinha não vai ao bar.
Então eles fecham a porta com tudo e me vejo só, sozinho na mesa de jantar, com todos os pratos na mesa, toda a comida pronta. Dou a primeira garfada e logo desmorono.
créditos foto: freepik.com
meu deus, esse texto eh muito bom! De verdade! Emocionei real aqui! Ler esse tipo de história sempre da uma chocada, enfim amei!
Que bom que você gostou Dé. (Desculpa estar respondendo só agora).